O cenário do sul da Bahia fez mais uma família estrangeira refém. Após algumas estadias na residência de uns amigos na região, os Perrin estavam convencidos: Trancoso era mesmo o endereço perfeito para estabelecer seu refúgio de veraneio. “Amamos a natureza, o clima e as extensas praias quase desertas (do lugar). Além disso, meu marido e meus três filhos são esportitas, podem praticar do surfe ao golfe e até fazer passeios a cavalo”, conta Maria Perrin, que faz questão de visitar o nordeste brasileiro pelo menos duas vezes por ano. A brasileira, filha de diplomatas, vive há três décadas em Paris, onde toca, com o marido francês Philippe Perrin, os negócios da Galeria Perrin, de arte e antiguidades.
Os dois acreditaram no potencial de uma construção dos anos 1980, debruçada sobre a falésia do Morro do Cientista, e delegaram aos arquitetos do escritório local Vida de Vila a tarefa de repagina-la. “Pedimos uma casa simples, clara, bem iluminada e totalmente integrada à paisagem. Outro ponto que ressaltamos foi privilegiar o artesanato e a mão de obra nativos”, diz Maria.
Por indicação de um amigo, encontraram os profissionais ideais para atender a tais desejos: André Lattari e a esposa Daniela de Oliveira. À frente do Vida de Vila, eles desenvolvem não somente projetos de arquitetura, mas também de mobiliário, alinhados aos serviços e materiais da região. Naturais de São Paulo e Minas Gerais, respectivamente, André e Daniela elegeram Trancoso como lar e se articularam a uma rede de artistas e artesãos locais, criando um estilo de trabalho que caiu nas graças dos galeristas. “Quase todos os móveis foram desenhados sob medida pela Daniela. Temos chuveiros feitos de cobre, luminárias de coco realizadas por artesãos da vila vizinha e tapetes de sisal. Acho que vem daí a autenticidade da casa”, afirma a proprietária.
Foram oito meses de reforma e muitas conversas no Skype até chegar ao resultado que se vê hoje. O layout antigo, escuro, compartimentado e abafado, deu lugar ao novo programa quase sem divisórias, com ambientes fluidos e, principalmente, integrados à natureza em função das generosas aberturas desenvolvidas pelos arquitetos. “Hoje é possível ver o mar de quase todos os cômodos orgulha-se a proprietária”. O terreno de 4.600 m² permitiu a edificação de dois anexos, totalizando oito suítes e 590 m² de área construída – espaço suficiente para hospedar confortavelmente parentes e amigos da família. “Quando estrangeiros vêm para cá, não querem ter muita coisa com que se preocupar. Isso se reflete no projeto. Por isso, buscamos o minimalismo e apostamos em móveis grandes e confortáveis”, analisa André. “Outro pedido deles foi uma área para refeições ao ar livre”. A dupla propôs, então, uma segunda cozinha gourmet externa, sob um pergolado e voltada para o oceano. Longe da rotina dedicada a vernissages, reuniões com clientes e toda sorte de jantares formais, a família recarrega as energias fitando o firmamento azul e verde da paisagem. Os Perrin descobriram a sua maneira de aproveitar – e balancear – o que há de melhor em dois mundos: a sofisticação de Paris e a paz da atmosfera baiana.